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Jogadores do Alavés antes de jogo da Copa da UEFA (Foto: Martin Rose) |
Na temporada 2000/01, o Deportivo Alavés viveu o momento mais marcante de sua história. Recém-chegado à elite do futebol espanhol após décadas entre divisões inferiores, o clube basco surpreendeu a Europa ao fazer uma campanha histórica na Copa da Uefa, desafiando gigantes tradicionais do continente com um futebol ofensivo, vibrante e cheio de personalidade.
Com um elenco modesto, mas muito bem organizado, o Alavés passou por adversários de peso e escreveu um dos capítulos mais improváveis do torneio, chegando à final continental em sua primeira participação. Mesmo sem o desfecho ideal, a trajetória daquela equipe entrou para o imaginário do torcedor e garantiu um lugar especial na memória dos fãs de futebol europeu.
Na sombra dos grandes bascos
Fundado em 1921, o Deportivo Alavés nasceu em Vitoria-Gasteiz em um cenário dominado por outras potências do futebol basco. Enquanto clubes como Athletic Bilbao, Real Sociedad e até o Osasuna construíam prestígio na elite espanhola, o Alavés trilhou um caminho mais modesto, marcado por passagens curtas na primeira divisão e longos períodos nas categorias inferiores.
Durante boa parte do século XX, o clube viveu à sombra dos rivais regionais. A falta de estrutura, recursos limitados e pouca projeção nacional dificultaram a consolidação do Alavés como uma força competitiva. O time era visto como um coadjuvante dentro do próprio País Basco, sustentando uma identidade local forte, mas sem o mesmo reconhecimento esportivo dos vizinhos que frequentavam com regularidade os principais palcos do futebol espanhol e continental.
Sensação em La Liga e sonho europeu
Foi na temporada seguinte, em 1999/00, que o clube protagonizou uma grande campanha. Com direito a duas vitórias sobre o Barcelona, terminou em sexto lugar, na frente dos rivais bascos, e conseguiu se classificar para a Copa da UEFA – atual Liga Europa.
O elenco não era estrelado, mas o técnico Mane conseguiu montar uma equipe sólida defensivamente. O goleiro Martin Herrera foi premiado com o Troféu Zamora, concedido ao arqueiro menos vazado de La Liga. Na lateral, o romeno Cosmin Contra se destacava pelo apoio ao ataque, contribuindo com gols e assistências. No comando ofensivo, Javi Moreno viveu a melhor fase da carreira, marcando 28 gols na temporada. Quem também fazia parte do elenco era Jordi Cruyff. O filho do lendário Johan já tinha 27 anos e, após passagens por Barcelona e Manchester United, se estabeleceu no meio-campo do Alavés, uma peça importante, juntamente com Pablo Gómez.
Disputando pela primeira vez uma competição europeia em sua história, o Alavés iniciou sua campanha na Copa da UEFA eliminando o Gaziantespor, da Turquia, por 4 a 3. Na segunda e terceira rodadas, superou os noruegueses do Lillestrom e Rosenborg, por 5 a 3 e 4 a 2, respectivamente.
Na quarta fase, o adversário era a tricampeã Inter de Milão. No jogo de ida, em Mendizorrotza, os italianos chegaram a abrir 3 a 1, mas os espanhóis reagiram para buscar o empate em 3 a 3. No confronto de volta, em pleno Giuseppe Meazza, o Alavés venceu por 2 a 0, com gols marcados já na reta final da partida.
Nas quartas de final, um duelo espanhol contra o Rayo Vallecano. O Alavés venceu em casa por 3 a 0 e, mesmo com uma derrota no jogo de volta por 2 a 1, garantiu vaga para a semifinal diante do Kaiserslautern. Os alemães não tiveram chances no confronto, perdendo por 9 a 2 no placar agregado.
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(Foto: Marca) |
Na decisão do segundo torneio mais importante da UEFA, o Alavés enfrentou o Liverpool, no Westfalenstadion, em Dortmund. Sob o comando de Gérard Houllier, os Reds não tinham um elenco midiático, mas contavam com nomes de peso, como Hyypia e Carragher na defesa, Gerrard no meio-campo e a dupla de ataque formada por Heskey e Owen.
No papel, o caminho do Liverpool até a final foi mais desafiador, eliminando adversários como Olympiakos, Roma, Porto e Barcelona.
A partida começou da pior maneira possível para os espanhóis. Em apenas 15 minutos, Babbel e Gerrard colocaram os ingleses em vantagem de 2 a 0. Tentando buscar a reação, o Alavés descontou aos 27, com Iván Alonso, de cabeça, após cruzamento de Contra. No entanto, ainda no primeiro tempo, Gary McAllister, em cobrança de pênalti, fez o terceiro do Liverpool.
Na volta para a etapa final, Javi Moreno brilhou: marcou dois gols em um intervalo de três minutos, de cabeça e cobrando falta, empatou a decisão. Aos 28, Fowler, que havia entrado no decorrer da partida, voltou a colocar o Liverpool em vantagem. Quando o jogo se encaminhava para a reta final, Óscar Téllez cobrou escanteio e Jordi Cruyff, de cabeça, fez 4 a 4, levando a finalíssima para a prorrogação.
No tempo extra, a situação do Alavés ficou complicada. O brasileiro Magno cometeu falta dura em Babbel, recebeu o segundo cartão amarelo e foi expulso. Pouco depois, foi a vez de Karmona ir para o chuveiro mais cedo, após falta em Smicer. Na sequência do lance, McAllister levantou a bola para a área, o goleiro Herrera saiu mal, e Geli acabou cabeceando contra o próprio patrimônio. Pela regra do gol de ouro, a partida foi encerrada imediatamente: 5 a 4 para o Liverpool, que venceu uma tríplice coroa “alternativa” naquela temporada, com os títulos da Copa da Inglaterra, Copa da Liga e Copa da UEFA.
Sem o título europeu, o Alavés voltou suas atenções para a reta final da La Liga, mas encerrou a competição em má fase, com cinco derrotas consecutivas – incluindo uma goleada por 5 a 0 para o Real Madrid. Ainda assim, o time fechou o campeonato na décima posição, com 49 pontos.
De volta à realidade
Mesmo sem suas principais peças, o Alavés terminou o Campeonato Espanhol na sétima colocação e garantiu uma vaga na Copa da UEFA de 2002/03. No entanto, a campanha europeia foi curta: após eliminar o Ankaragucu, caiu diante do Besiktas na segunda rodada. Em La Liga, a equipe somou apenas 35 pontos e terminou na penúltima posição, encerrando uma sequência de cinco anos na elite.
Após duas temporadas na segunda divisão, o Alavés retornou à elite em 2005/06, mas caiu novamente logo no ano seguinte. Durante esse período, o empresário Dmitry Pietrman comprou o clube em 2004 e instaurou um clima de instabilidade. Sua gestão foi marcada por contratações excessivas de jogadores e treinadores, além de graves problemas financeiros, culminando no rebaixamento para a terceira divisão em 2008/09.
Foram quatro anos na terceirona até que o Alavés voltou a escalar a pirâmide do futebol espanhol. Após três anos na segundona, retornou à elite em 2016/17, onde permaneceu por seis temporadas, até ser rebaixado novamente em 2022.
Depois de cair e voltar na segundona, garantindo o acesso via playoffs, o Alavés vai para sua terceira temporada em La Liga.